QUEM SOU EU: UMA BREVÍSSIMA AUTOBIOGRAFIA
Carlos Nougué
MOTIVO
Depois que um amigo e aluno procedeu, generosamente, a fazer uma página na Wikipédia sobre mim, incluiu-se na mesma página um item referente a polêmicas em que me envolvi ao longo dos últimos 10 anos, com notas que remetem a artigos contrários a mim de autoria de pessoas das mais variadas correntes de ideias. Como se pode ver ali, sou tachado ora de tradicionalista, ora de sedevacantista, ora de neocon; ora de medieval ou fundamentalista, ora de aderente da nova direita brasileira; etc. Mas, se uma pessoa é tachada de coisas tão díspares, a verdade quanto a ela há de encontrar-se no que Aristóteles chama justo meio, que, com respeito a mim, costumo traduzir de modo algo irônico: Eu sou eu. 
UMA BREVE NOTÍCIA DE MINHA VIDA QUANTO AO QUE INTERESSA AQUI, 
OU SEJA, NO CAMPO DAS IDEIAS
1)  Na fatídica década de 1960, como muito jovens católicos, apostatei da fé e aderi ao ateísmo e à revolução; tinha então 17 anos.
2) Em 1987 abandonei a revolução, ainda que permanecesse ateu.
3) Progressivamente, com a frequentação das artes do belo, da filosofia clássica e da doutrina tomista, fui passando a agnóstico, para enfim voltar, pela só graça e infinita misericórdia de Deus, à religião católica; tinha então 46 anos (1998). Abjurei da apostasia e da adesão à revolução tanto em ato religioso privado como em diversas entrevistas a jornais e outros meios públicos.
4) Liguei-me à FSSPX e ao Mosteiro da Santa Cruz, ou seja, fiz-me tradicionalista.
5) Tornei-me convictamente tomista, mas de um tomismo confuso, resultante do autodidatismo; e assim permaneci até cerca de dez anos atrás, a partir de quando tomei por mestres e guias, inicialmente, ao Pe. Cornelio Fabro (excluído seu voluntarismo final) e, depois, ao Pe. Álvaro Calderón. Começava a desenhar-se assim o que hoje se plasma em meus livros e em meus cursos on-line: um tomismo próprio e, quero crê-lo, nada confuso.
6) Há uns oito anos, desafiei Olavo de Carvalho a um debate, mas com o único intuito de desagravar a honra de um amigo (embora a coisa também tivesse, é óbvio, um fundo doutrinal). – Diga-se de passagem, aliás, que não vivo de debates e bate-bocas de Internet; vivo de escrever livros e de ministrar cursos.
7) Há cerca de três anos, concluí que deveria afastar-me da chamada Resistência, para tornar-me, digamos, um tradicional (não me agrada o termo “tradicionalista”) solitário. As razões para tal deixei-as claras em escritos meus posteriores. Mas atenção: nem a FSSPX nem a Resistência são cismáticas, e, se não estão em “plena comunhão com Roma”, é por uma injusta e pois inválida excomunhão e pela imensa crise desencadeada pelo Concílio Vaticano II. Têm por fim salvaguardar a fé, os sacramentos e o sacerdócio e não são de modo algum sedevacantistas; e por isso afirmo que têm todo o direito de existir, apesar de minhas divergências quanto a aspectos de seu modo de atuar. – Ademais, concluí que a questão “acordo ou não acordo com o Vaticano” não é questão pertinente a mim, um simples filósofo católico laico.
8) Quanto ao sedevacantismo, considero-o uma sorte de vertigem. Já fiz suficiente crítica dele em meu Do Papa Herético; e as invectivas e diatribes de seus defensores contra mim – ou nada lisas, ou profundamente ignorantes  relego-as ao esquecimento.
9) Quanto ao Vaticano II e ao conjunto do magistério conciliar, minha crítica está vertida em diversos escritos e vídeos, e em particular no já referido livro Do Papa Herético. Tem afinidade com a doutrina do Pe. Álvaro Calderón, mas não deixa de ter feição perfeitamente própria, como se vê por minha posição com respeito à questão do papa herético e à dos sacramentos tais quais instituídos pelo magistério conciliar.
10) Apoiei a participação dos católicos nas manifestações contra Dilma e o voto católico em Bolsonaro, mas com ressalvas. Os católicos deveriam comparecer àquelas manifestações como tais, com rosário na mão, etc.; e deveriam votar em Bolsonaro como em um mal menor, ou seja, sabendo que se tratava, ao fim e ao cabo, de um mal. Em ambos os casos, buscava-se um bem: que nos livrássemos do inimigo mais virulento, o PT; e nisso eu seguia não só a São Pio X – que, por exemplo, disse aos católicos italianos que “deveriam votar no candidato menos indigno” –, mas ao simples e puro bom senso. Era uma questão de prudência.
11) Já há cerca de 10 anos, comecei a empenhar-me no combate pela Realeza de Cristo e pelo estado cristão, sem o qual as nações não passarão nunca de ser pasto de demônios. Sigo nisto ao Cardeal Pie de Poitiers, o inspirador do pontificado de São Pio X, e a quase dois mil anos de magistério da Igreja. Diga-se, aliás, que para este combate pouco importa se sairá vitorioso. O que importa é antes de tudo combatê-lo, como o diz peremptoriamente o mesmo Cardeal Pie de Poitiers; e é o que tento incutir nos pujantes centros e institutos da Liga Cristo Rei. – Mas por este combate sou duramente atacado pelas três espécies de liberalismo: o católico, o puro, e o disfarçado de conservadorismo. Tais ataques fazem parte dos galardões que posso obter nesta vida em ordem à definitiva, e me aguilhoam antes a continuar que a deter-me.
12) Com isso, já posso concluir esta brevíssima autobiografia. Sou, sim, de direita, mas da única que se pode dizer propriamente tal porque tenta imitar a Aquele que está à direita do Pai e que, no dia do juízo, porá à sua direita os eleitos.
Observação final: não me custa relembrar: eu sou eu…          

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