«O conceito mesmo do intelecto», diz S. Tomás (no Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo I, dist. II, q. 1, a. 3), «tem-se de três maneiras com respeito à coisa que existe fora da alma:
Pois às vezes aquilo que o intelecto concebe é uma semelhança da coisa que existe fora da alma, como o que se concebe do nome “homem”; e tal conceito do intelecto tem fundamento na coisa imediatamente, enquanto a coisa mesma, por sua conformidade com o intelecto, faz que o intelecto seja verdadeiro, e que o nome que significa tal intelecção se diga propriamente da coisa [trata-se da intenção ontológica].
Às vezes, todavia, o que o nome significa não é uma semelhança da coisa que existe fora da alma, senão que é algo que se segue do modo de entender a coisa que está fora da alma: tais são as intenções [segundas, lógicas] que nosso intelecto inventa, assim como o significado pelo nome “gênero” não é semelhança de nenhuma coisa existente fora da alma, senão que, porque o intelecto entende “animal” como dando-se em muitas espécies, lhe atribui a intenção de gênero; e, embora o fundamento próximo destas intenções não esteja na coisa, mas no intelecto, tem todavia fundamento remoto na coisa mesma. Daí que o intelecto que inventa estas intenções não seja falso. E algo semelhante se passa com todas as outras intenções que se seguem do modo de entender, como a abstração dos entes matemáticos e outros que tais.
Outras vezes, por fim, o que é significado pelo nome não tem nenhum fundamento na coisa, nem próximo nem remoto, tal como o conceito de “quimera”, porque nem é semelhança de nenhuma coisa fora da alma, nem se segue do modo de entender alguma coisa da natureza; e este conceito, portanto, é falso.»